sábado, 12 de abril de 2014

A BOLINAR COM VENTOS INCERTOS


UM PAÍS À DERIVA




Onde estás meu país?
Procuro-te na ribeira, no promontório,
bolinando contra os ventos do Sul,
na Estrela que outrora foi palco de
lutas que quebraram amarras, e tantas vezes,
nas reinvestidas dali,
de ti sofreram pesados revezes,
nas planícies onde a riqueza fluía,
nas heresias que te imputavam e,
a quanto Vieira se opunha, com risco,
da fogueira.
Nos rios, ou angras, que passe a tempestade.
Nos projetos que além do mediterrâneo exterior
levavam à morada do adamastor,
onde o segredo era a alma,
do povo que bradava, pela Liberdade.
Onde estás país dos lusos
que não te encontro na esfera
da independência,
a armilar que só a ti satisfaz o Direito
dos avanços que ora o Globo reclama,
do Perfeito que ao tempo se deu à fama.
Onde estás berço da fonia que abraçou
as Cinco Plataformas que Camões cantou.
Onde estão os teus netos que,
navegando à vista, e que Deus via,
toda a estratégia no convés urdia, a forma,
a da independência dos teus juízos. Com
a inteligência de párocos pátrios,
com honra, a intervalos fomos felizes,
descendência que novo milénio tornou raros.
Em tudo acolheste a fome!
E as Liberdades com que batizaste Abril?
Onde estão as amizades que, a União,
trauteava em todos os poemas líricos
repetidos no refrão e, agora, como tísicos,
a olhar, dos outros, a mão.
Por onde andam as tuas elites
que para lá do consumo das partidarites
te deixam sufocar sem que a voz lhes doa.
Onde estão os vigilantes que,
quando as águias ao longe sobrevoavam,
de um salto a proa retomavam e,
eis aí o nosso cais, abrigo dos ventos do levante.
Ali, do oeste, ondas não vinham,
afirmava a perícia com o sextante.
Hoje, em ti, não mandas,
és ilusão, fictício, propagandas,
no irresponsável e jovem ofício, ilicitude do saber,
irresponsabilidade no poder.
Por onde andas minha Pátria velha
que sobreviveu de centelha em centelha e,
se sempre andámos perdidos, foragidos até,
quando o vírus voltava a sair das catacumbas
e a epidemia se espalhava pelas ruas,
sabíamos quando era o toque a finados e,
todos, a caminhar cabisbaixos, calados.
Caíste sob o canto do rigor da finança,
voltaste ao tempo, nem mar, nem céu,
à deriva, nem laivos de esperança,
até ao momento, um país que se perdeu.
Por onde andam, meus heróis?


8/4/2014

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