quinta-feira, 15 de setembro de 2022


Homenagem a M M de Barbosa du Bocage


Muito avesso e travesso se dizia

No seu tempo, em versos escritos

Sem peias, nos versos que escrevia 

Mas o povo achava-os bem-bonitos 

.

Toda a plebe adorava e aplaudia

Vibrando com seus versos bem ditos

E quando sua voz bem alto se ouvia

Alta roda, ai-senhora-de-aflitos. 

.

Seus dias de jovem, infernais

míngua de pai e mãe em permanência 

De Setúbal, saltitou como os pardais 

.

A salvo, sua sólida inteligência 

Libertino assim não haverá mais

viva Bocage e sua maledicência.


José Faustino

15/09/2022.

sábado, 18 de abril de 2020

O CÂNTICO DAS PÉTALAS




O cântico das pétalas 

Desfolhei umas pétalas 
vermelhas como sangue
sobre pano branco e elas
sugeriram o teu nome.

Cores vermelha e branca 
anunciavam tempo quente 
dando voz a quem canta
aquilo que tem em mente.

O tempo ouviu, ouviu
A Primavera se abria
o cântico fluiu, fluiu
Bradando todo o dia.

Óh vermelho de veludo 
símbolo de lendas amadas
brilham olhos brilha tudo 
brilham as faces rosadas.

As pétalas ali espalmadas
escrita como em papel
emitiam canções faladas
como se a voz fosse real.

Então a minha “cantoteca”
baú da minha memória 
formou-se em videoteca 
cantando à tua glória.

As pétalas assim disseram
guarda as tuas recordações 
lembra que elas revelaram
as cores das tuas paixões.

E a canção à rua saiu
com o romance aliado
foi um amor que se abriu
trauteando o meu fado.

17/4/2020.
José Faustino

DA INDIFERENÇA AO PAVOR





Da indiferença ao pavor


Num ápice, duplicavam-se as notícias

Uma gripe normal, qual ausência de medo.

Os alertas pareciam notas fictícias

Pelos cafés ainda corria outro enredo.



Em poucos dias agitavam-se as milícias

Comentava-se, mas como se em segredo

Aos poucos as vozes revelavam-se propícias

A tirar o povo do seu indiferente sossego




Os média multiplicavam os receios

Da peste corona que se multiplicou

Então já se gritava pela falta de meios




E chegou o momento, onde tudo faltou

A dúvida apagava-se, subiam os receios,

Desertas as ruas, pavor ao vírus se instalou.



17/3/2020


José Faustino

sábado, 12 de abril de 2014

A BOLINAR COM VENTOS INCERTOS


UM PAÍS À DERIVA




Onde estás meu país?
Procuro-te na ribeira, no promontório,
bolinando contra os ventos do Sul,
na Estrela que outrora foi palco de
lutas que quebraram amarras, e tantas vezes,
nas reinvestidas dali,
de ti sofreram pesados revezes,
nas planícies onde a riqueza fluía,
nas heresias que te imputavam e,
a quanto Vieira se opunha, com risco,
da fogueira.
Nos rios, ou angras, que passe a tempestade.
Nos projetos que além do mediterrâneo exterior
levavam à morada do adamastor,
onde o segredo era a alma,
do povo que bradava, pela Liberdade.
Onde estás país dos lusos
que não te encontro na esfera
da independência,
a armilar que só a ti satisfaz o Direito
dos avanços que ora o Globo reclama,
do Perfeito que ao tempo se deu à fama.
Onde estás berço da fonia que abraçou
as Cinco Plataformas que Camões cantou.
Onde estão os teus netos que,
navegando à vista, e que Deus via,
toda a estratégia no convés urdia, a forma,
a da independência dos teus juízos. Com
a inteligência de párocos pátrios,
com honra, a intervalos fomos felizes,
descendência que novo milénio tornou raros.
Em tudo acolheste a fome!
E as Liberdades com que batizaste Abril?
Onde estão as amizades que, a União,
trauteava em todos os poemas líricos
repetidos no refrão e, agora, como tísicos,
a olhar, dos outros, a mão.
Por onde andam as tuas elites
que para lá do consumo das partidarites
te deixam sufocar sem que a voz lhes doa.
Onde estão os vigilantes que,
quando as águias ao longe sobrevoavam,
de um salto a proa retomavam e,
eis aí o nosso cais, abrigo dos ventos do levante.
Ali, do oeste, ondas não vinham,
afirmava a perícia com o sextante.
Hoje, em ti, não mandas,
és ilusão, fictício, propagandas,
no irresponsável e jovem ofício, ilicitude do saber,
irresponsabilidade no poder.
Por onde andas minha Pátria velha
que sobreviveu de centelha em centelha e,
se sempre andámos perdidos, foragidos até,
quando o vírus voltava a sair das catacumbas
e a epidemia se espalhava pelas ruas,
sabíamos quando era o toque a finados e,
todos, a caminhar cabisbaixos, calados.
Caíste sob o canto do rigor da finança,
voltaste ao tempo, nem mar, nem céu,
à deriva, nem laivos de esperança,
até ao momento, um país que se perdeu.
Por onde andam, meus heróis?


8/4/2014

terça-feira, 3 de dezembro de 2013


CARRO DA POLÍTICA VIA OCASO



A diligência da política corre para o abismo
A economia, lenta, atrasa-se no apeadeiro e
corrompe-se.
Relógio não pára, no tempo não há sincretismo.
A carruagem, em ziguezague, descarrila, tomba
e corrompe-se.

Os dias contam-se, de esperança, inúmeros
os meses vão destapando as mentiras
no palco há políticos, inergúmenos
a democracia atropela-se, desfaz-se em tiras.

Políticos mentem, mas não são cães,
estes apenas ladram, mentir não sabem,
aqueles gritam, que multiplicam os pães
lá da tribuna, que ouçam os que nada valem.

Na vigia estão, os que tudo podem,
mandam orar, entretendo os indefesos,
do subterrâneo, sem ladrar mordem
e os que gritam na praça, vão presos.

De tocas saem baforadas de medo
anestesias que a média espalha
para que as multidões, quietos, ledos
e à fome, remédio que sustem a canalha.

Surgem de fora, mensagens de poder
sentenças que mencionam prazos de morte
é a finança que diz, o bem-querer
e todo o Sul, incrédulo, sujeito a tal sorte.


Se te demites tens como sorte a cadeia
volta para esse lugar, cumpre a missão,
verás que deus poderoso, assim premeia
quem se sacrifica, na politica de profissão.

Ó alvorada, que tanto demoras,
não vejo ainda a estrela, não há raiar,
se o dia não se aclara, se alvorecer a desoras
por muito tempo teremos de agonizar.

Apressa os guias, desbloqueia a carruagem
sustenta as rédeas e a linha no carril
desbloqueia o que já só parece uma miragem
devolve-nos a esperança, em novo Abril.

27/11/2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

---- PLAGIANDO JOSE SARAMAGO ----


  FEBRE PRIVATIZADORA


Privatizem tudo.
Privatizem o mar e o céu,
destruam o tesouro que vos paga
destruam o que é público, essa chaga,
e tudo aquilo que a democracia deu.


Privatizem a água e o ar,
a água da chuva que molha a canalha
os burros contentam-se com palha
e se algum serviço a lucro cheirar
paguem bem às assessorias
as mesmas que aumentam o défice todos os dias.


Privatizem a nuvem que passa,
são a fonte da água que gera lucro
essa dádiva ao povo não tem custo
é de graça, para ricos ou escravos
mas, direitos públicos benefícios privados.


Privatizem os sonhos,
sobretudo os diurnos, de olhos abertos.
Privatizem os estados e, entreguem
a exploração a privados. Mediante
concurso internacional fechado.
E não se esqueçam, nem esperem
por levar essa febre por diante, 
entreguem tudo, Moedas e Borges,
e outros tantos males que infestam tanta gente.


Privatizem os conselheiros,
mas taxem, depois os seus mealheiros,
os que das privatizações se vão enchendo,
enquanto o Estado que lhes paga vai perdendo
o fôlego mas, despejando lares inteiros
e os porta moedas dos idosos.
Assim vão “professores” vivendo
hoje já não prestam e, outra coisa não sendo,
que mais serão, que piolhosos?


E, se não for essa a Salvação do Mundo
será porque o mundo ruiu
e já agora, privatizem também
a puta que os pariu.

3/8/2013.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

-------------- NA PRAÇA DOS DESENCONTROS ------------


NA PRAÇA DOS DESENCONTROS
MAR DE CONFUSÕES


Onde as vozes não combinam
nem musica chega a bares,
até os poetas desalinham
nem os seus versos rimam
tudo é confusão nas estrofes.

Ó poesia,
que rumo te aconselharam?
Porque esqueceste Camões?

           ***

E, assim vai a barca ondeando,
com auto elegias da praça pública onde
eu, sempre melhor do que tu, estamos no caos,
da ordinária febre, onde a imbecilidade
periódica descreve, teoria de políticos maus
e, onde se afirma com lisonja sobriedade,
na ausência do inteligente, do crítico,
após décadas da seca visão, a “woodface”,
confessa-se; não sou político.


Venha, a sombra do Divino, que esbraceje,
nas ágoras duma religiosa corte, perdida,
que ressurgiu dos infernos, ainda ferida,
a recordar o Chifrudo, que o medo elege,
aí se confrontam, com infame desmesura,
o que o Zé, em resumo, mastiga e absorve
sem um mínimo de compostura,
na mentira grosseira que pela tinta corre
qual dos sagrados e, qual dos diabos,
mais vende nesse inferno dos mercados.

Ei, raia que pisais minha Obra,
que aspirais entrar em patamar das cenas,
calai-vos, borregos, escutem apenas
o que digo, e digo, vezes às centenas,
aqui não há laivo de censura
apenas imagem física, que mantos escondem,
minhas palavras, não são sol-de-pouca-dura
são cânticos que séculos entoaram
deram à humana sorte alma e, prescreveram
que, liberdade diabólica, tem censura.


Eu sou o que orienta os rebanhos
pelas pastagens que as tormentas regam
e, dentro da rede onde nos encontramos
não pode babar-se o infiel rabudo
se seguirdes o que os fiéis pregam
de mãos ao alto imploramos tudo,
e tudo o que a míngua rasa e enche
é supérfluo para a pouca mente.


Calem-se os ventos "Ordos"
espalham-se vozes desencontradas,
quando a fome se solta a todos.
Aqui na Terra é santa a condição,
de pouco comer para ter perdão.
É sacrifício, no Caos desenhado,
profana lei, em Tempo escrita,
moldando a vida que corre por todo
o lado. Ao cão não se nega um naco,
nem ao beduíno que a Sumidade protege,
no lugar do Humano, que é macaco.


Não denunciem as boas palavras,
eu vos protegerei dos divinos açoites,
comei do sal, do vosso suor , como dádivas,
e, a conquistar as miséria, não te afoites.

jcf
10/6/2013